“Depois que entrei na corporação, tive de enfrentar preconceitos
em casa, na sociedade e na própria instituição.” O relato é da subtenente
Márcia Carvalho, que atualmente assume o cargo de vice-presidente da Associação
dos Subtenentes e Sargentos Policiais e Bombeiros Militares do RN (ASSPMBMRN).
Segundo ela, na época era incomum conceber que uma mulher
poderia ser policial, pois era uma profissão totalmente masculinizada. "Eu
tinha o desejo de ser militar e a abertura para a Polícia Militar foi uma
oportunidade para realizar isso”, contou, lembrando que, após a aprovação no
concurso para o ingresso efetivo, todas as mulheres da turma foram obrigadas a
cortar o cabelo curto, para se assemelhar aos homens, o que causava
estranhamento.
Márcia Carvalho reconhece que é fato que há diferenças físicas
que devem ser respeitadas, “mas a inteligência e a preparação é a mesma”. A
subtenente ressalta que a realidade atual está um pouco diferente. “Apesar das
adversidades, conseguimos nos manter até hoje na instituição”, avalia,
criticando a não preparação estrutural da corporação e a falta de valorização
por parte dos gestores como pontos primordiais para mudança.
“É inacreditável que até hoje não há alojamentos femininos
adequados dentro do Quartel do Comando Geral, e o nosso fardamento, até poucos
anos atrás, era o mesmo do masculino e, para vesti-los, eram necessárias
adaptações”, asseverou a vice-presidente da ASSPMBMRN.
Ingresso de mulheres na
corporação é insuficiente
A subtenente Márcia Carvalho lembra que antes dessa turma, duas
mulheres tinham ingressado na PMRN em 1986; e que após a turma de 90, apenas
com mulheres, houve ainda três concursos para a PMRN (em 1992, 2000 e 2004), mas
com pouco percentual de mulheres ingressando.
“Diferente de nosso estado, há três anos a Polícia Militar do
Espírito Santo já teve turma feminina com 300 mulheres”, frisou, pontuando que
nesse último concurso para a PMRN, realizado em 2018, houve 57 vagas para
mulheres. Sendo que, no entanto, boa parte das Pioneiras está em processo para
a reserva remunerada.
“Com esse lapso temporal sem vagas, estas são insuficientes e
vão apenas substituir as saídas. Continua a mesma lacuna”, reitera Márcia
Carvalho. Para a vice-presidente da ASSPMBMRN, a falta de efetivo feminino
implica em danos à sociedade, como a não prática do artigo 249 do Código Penal,
que indica que “a busca em mulher será feita por outra mulher, se não importar
retardamento ou prejuízo da diligência”.
Além disso, ainda surge o impedimento de realizar com eficácia a
Patrulha Maria da Penha – uma ronda especial para mulheres que têm medidas
protetivas, e, para isso, se recomenda ter policiais femininas na equipe
FONTE – JORNAL DE FATO
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